June 2024 | NO 06

MARKET INSIGHT – Junho 2024

MARKET INSIGHT

análise mensal da Prime Partners SOBRE A ACTUALIDADE económica e dos mercados financeiros MUNDIAIS.

Uma pitada de abrandamento e um toque de exuberância

2024 não vai ser recordado como um ano em que se cumpriu a famosa máxima «sell in May and go away».   No seguimento de um mês de abril complicado para os principais índices bolsistas, começaram a surgir alguns discursos pessimistas que faziam temer que esta máxima, muito conhecida pelos financeiros, se materializa este ano. O mínimo que podemos dizer é não, isso não aconteceu, porque as ações recuperaram nas últimas semanas, tendo atingido novos máximos.

No entanto, a equação das duas incógnitas que ocupa os nossos pensamentos desde há alguns trimestres mantém-se intacta.  As decisões da FED e o crescimento da economia norte-americana estão sempre no centro quando se trata de determinar a alocação de ativos que devemos aplicar nas nossas carteiras. O certo é que, à medida que as semanas passam, os números da economia norte-americana e os discursos dos bancos centrais apresentam indicações cada vez mais precisas. A isto acresce o facto de já conhecermos o fator dos lucros das empresas que, de momento, não nos preocupa em demasia, porque as divulgações do primeiro trimestre revelaram-se geralmente boas.

O acompanhamento dos mercados financeiros é um recomeço permanente. O grande número de divulgações, independentemente de serem de caráter económico, empresarial ou sob a forma de discursos mediáticos dos bancos centrais, promovem movimentos bolsistas por vezes importantes e sem qualquer possibilidade efetiva de antecipação. Deste modo, tentamos detetar as tendências a um prazo mais longo para orientar as nossas alocações. Nesta perspetiva, recentemente, alguns dados americanos chamaram a nossa atenção: O índice de serviços ISM ficou aquém dos 50 pontos, algo que é muito raro e merece ser realçado. Estamos a falar de um dado económico que, durante muito tempo, foi o símbolo da resistência da economia norte-americana.

Embora um dado não crie uma tendência, estaremos atentos para ver se este ligeiro arrefecimento é confirmado ou não nas próximas semanas, embora registemos que outros dados recentes sobre a economia norte-americana (índice da produção industrial NY Empire, consumidores) parecem apontar na mesma direção.

Após o que poderíamos classificar de estado de graça nos últimos trimestres, a economia norte-americana poderá estar a começar a apresentar os primeiros sinais de desaceleração

Após o que poderíamos classificar de estado de graça nos últimos trimestres, a economia norte-americana poderá estar a começar a apresentar os primeiros sinais de desaceleração que, a título de recapitulação, era esperada há já muito tempo.

As últimas semanas deram-nos indicações sobre o estado atual da inflação que continua a ser o parâmetro mais analisado pelos mercados com o intuito de antecipar futuros cortes das taxas. Após um período inicial com muito poucas oscilações durante o ano (no seguimento de um importante recuo em 2023), a inflação «CORE» americana recuperou a tendência do sul em abril e foi com alívio que os mercados receberam esta evolução.

No entanto, a boa notícia é que as empresas não parecem alarmar-se perante a perspetiva de uma desaceleração violenta da atividade. Se a inflação retomar o seu trajeto para os níveis exigidos pela FED para iniciar uma fase de cortes das taxas de juro, então, poderíamos estar a assistir ao início da famosa «aterragem suave» da economia norte-americana, que, devemos reconhecê-lo, demorou muito mais a concretizar-se do que o previsto.

Fora dos EUA, embora a visibilidade possa ser um pouco melhor, a situação é frequentemente pior. Parece que a Europa começa a sair do marasmo com divulgações económicas que apontam para uma retoma ligeira das partes mais industriais da economia, mesmo que os dias de esplendor (designadamente na Alemanha) continuem a parecer muito longínquos. No plano monetário, o BCE não deverá surpreender e efetuar um primeiro corte de taxas em junho. Não devemos perder de vista que o próprio ambiente político continua a ser de muita incerteza. As eleições para o Parlamento Europeu no início de junho poderão revelar divergências importantes e o crescimento dos partidos extremistas.

Por último, a China, cujos índices bolsistas que, por certo, rivalizam este ano com os dos mercados desenvolvidos (após três anos catastróficos), mas relativamente à qual se vê poucos sinais concretos de uma retoma acentuada da atividade económica. Além disso, as recentes manobras militares à volta de Taiwan chamam a nossa atenção para o facto de a situação geopolítica da região continuar muitíssimo incerta e justifica uma exposição prudente às ações chinesas.

No domínio dos mercados financeiros, o período de divulgação de resultados voltou a tranquilizar os investidores. É certo que, sempre que existe uma ligeira deceção em relação aos números ou às perspetivas, os investidores são impiedosos, mas, geralmente, os discursos dos diretores executivos foram otimistas relativamente aos próximos meses.

O título desta publicação refere «um toque de exuberância» e faz referência a algumas reações das bolsas registadas nos mais variados locais. É difícil não pensar imediatamente nos números divulgados pela Nvidia, muito esperados pelos operadores e um verdadeiro barómetro do fenómeno bolsista potenciado pela inteligência artificial. Não obstante as expectativas extremas, a empresa, líder esmagador do setor dos semicondutores, conseguiu uma vez mais ir ao encontro das expectativas do mercado com um crescimento de três dígitos em termos de vendas e receitas (um crescimento de 462 % face ao trimestre anterior!). Simplesmente fenomenal. No momento em que redigimos estas linhas, as ações da Nvidia registam uma subida de 130 % em 2024, depois de já terem valorizado 238 % no ano passado… O surpreendente é que, com uma margem operacional recorde de quase 62 %, este facto quase que poderia parecer justificado… 

A exuberância manifesta-se também em baixa. Independentemente de serem temporários, após resultados considerados dececionantes face às expectativas ou devido a uma má comunicação das equipas diretivas, certos valores que costumam ser bem recebidos pelo mercado bolsista não estão a beneficiar do entusiasmo dos índices acionistas este ano. Os famosos «7 fantásticos» ficaram reduzidos a apenas 5, sendo que a Apple e, sobretudo, a Tesla estão longe de manter o ritmo este ano.

Tudo isto reforça a nossa opinião de que é fundamental ter uma exposição aos setores corretos e, também, estar muito atentos aos valores nele investidos. Por outras palavras, as expectativas elevadas, as taxas de juro persistentemente altas e os sinais ligeiramente mais contraditórios no que respeita à pujança da atividade económica norte-americana formam um enquadramento em que a seleção de valores e a gestão ativa devem ser sublinhadas.

As expectativas elevadas, as taxas de juro persistentemente altas e os sinais ligeiramente mais contraditórios no que respeita à pujança da atividade económica norte-americana formam um enquadramento em que a seleção de valores e a gestão ativa devem ser sublinhadas

No que respeita às obrigações, a nossa estratégia de conjugar diferentes fundos de «nicho», ativos em segmentos específicos no domínio das obrigações (alto rendimento, obrigações de empresas emergentes, etc.) com um produto mais tradicional nos quais dispomos de um forte domínio dos elementos setoriais e de duração permite-nos captar o desempenho. Este ano, os principais índices de obrigações diversificados estão em terreno negativo, não havendo dúvida de que a retórica «higher for longer» no que respeita às taxas de juro, e mesmo aqueles que não excluem totalmente uma nova subida das taxas por parte da FED, não são muito favoráveis para as obrigações. Por essa razão, consideramos que é fundamental ter uma gestão tática da componente de obrigações das nossas alocações e não fazer depender totalmente o resultado das alocações do desempenho das ações. Acrescentemos a isto o facto de que, em linha com a mensagem ligeiramente mais prudente que aqui deixamos, as obrigações com notações que apontam para uma qualidade média dos balanços (BBB-) devem ser tidas em conta cuidado, porque nem todas as obrigações são iguais, muito longe disso!

É igualmente importante referir o contributo das estratégias alternativas investidas nas nossas alocações (nas quais incluímos o ouro). Além de contribuírem positivamente para o desempenho deste ano (como aconteceu no ano passado e, inclusivamente, em 2022 para algumas delas), estas estratégias amortizarão um eventual impacto no caso de a desaceleração económica norte-americana, que suspeitamos, vir a ser mais profunda ou mais rápida do que o previsto.

Por último, algumas palavras sobre uma classe de ativos que é frequentemente negligenciada: o «cash»! Com os atuais rendimentos do dólar superiores aos do mercado de obrigações, seria de lamentar não manter uma parte de «cash» nas nossas carteiras. Risco zero, liquidez máxima e rendimentos perto dos 5 % em um ano em dólares… “What else”, como diria George Clooney!

Trata-se exclusivamente de uma questão de proporção nos mercados financeiros, sendo que vamos continuar a acompanhar de perto nas próximas semanas o alcance de qualquer eventual desaceleração da economia norte-americana e as suas consequências para as taxas de juro e os resultados das empresas. Após um início do ano prometedor, conjugando o desempenho das nossas alocações com uma volatilidade contida, agora, temos de agir com sensatez, diversificação e um pouco mais prudência.