MARKET INSIGHT – Fevereiro 2025
MARKET INSIGHT
análise mensal da Prime Partners SOBRE A ACTUALIDADE económica e dos mercados financeiros MUNDIAIS.
Decretos, anúncios e volatilidade para começar bem!
Disse, cumpriu! Sem surpresa, Donald Trump, o novo Presidente dos Estados Unidos, pôs rapidamente mãos à obra. Com uma série de ordens executivas orgulhosamente brandidas perante as câmaras, revelando a sua assinatura de tamanho XXL feita com uma grande caneta de feltro, o lançamento oportuno de uma criptomoeda com a sua imagem e o anúncio de um gigantesco plano de investimento em inteligência artificial, janeiro marcou o regresso da política do espetáculo nos Estados Unidos. Além disso, o Presidente pôde contar com o seu agora fiel aliado Elon Musk, que tampouco se tem poupado a declarações polémicas, assumindo o papel de líder único do já famoso DOGE (Departamento de Eficiência Governamental).
Em contraste com toda a turbulência a seguir ao mandato Trump 1.0 conhecida dos mercados financeiros, a chegada, no final do mês, de uma inteligência artificial chinesa com resultados idênticos aos obtidos no campo dos gigantes tecnológicos americanos, mas com custos de desenvolvimento significativamente inferiores, apanhou os investidores de surpresa. Durante um dia, os últimos chegaram mesmo a entrar em pânico, pondo subitamente em dúvida a manutenção dos investimentos maciços em semicondutores e, de um modo mais geral, em todo o ecossistema da IA.
Em 2024, o autor de sucessos Yuval Noah Hariri afirmou que «as nossas instituições e tecnologias mudaram, mas as nossas emoções são da Idade da Pedra». Não há dúvida de que, com um homem como Donald Trump ao leme da principal potência mundial, e com as ações tecnológicas a terem o desempenho que tiveram nos últimos dois anos, há muita probabilidade de esta afirmação se confirmar várias vezes este ano nos mercados bolsistas.
Além dos avanços tecnológicos e do regresso de Donald Trump ao poder, torna-se fundamental ter em conta um conjunto de grandes questões económicas, financeiras e geopolíticas na gestão das carteiras multiativos em 2025.
A situação económica das três grandes regiões geográficas – Estados Unidos, Europa e China – apresentam grandes diferenças. O excecionalismo americano contrasta com um crescimento praticamente nulo na Europa e uma situação na China que continua a ser motivo de inquietação, sem sinais concretos de melhoria da grave crise imobiliária que o país atravessa. No entanto, estas grandes diferenças de dinâmica económica não devem fazer com que abandonemos a diversificação das carteiras. Por outras palavras, temos plena consciência de que dar demasiado peso apenas às ações tecnológicas americanas em 2025 seria um erro.
Temos plena consciência de que dar demasiado peso apenas às ações tecnológicas americanas em 2025 seria um erro
Logicamente, a economia do Tio Sam continua em pleno funcionamento. A taxa de desemprego é baixa e a liderança é forte em muitas áreas. No entanto, as taxas de juro continuam altas e é provável que o presidente da Reserva Federal dos EUA venha a ser rapidamente acusado pela administração Trump de não as baixar com a rapidez suficiente, por culpa da maldita inflação que a introdução de direitos aduaneiros e outras expulsões de trabalhadores ilegais parecem capazes de alimentar. Deste modo, é preciso ter cautela com as ações com balanços muito endividados, assim como com as empresas americanas de pequena capitalização, para as quais a atual conjuntura continua tensa no domínio do refinanciamento.
Paradoxalmente, no que respeita às taxas de juro, a situação na Europa tem maior visibilidade. O débil crescimento no velho continente deixa pouca margem de manobra ao BCE. Nestes termos, é com legitimidade que o mercado espera uma série de reduções das taxas este ano, facto que deverá contribuir para um bom desempenho das ações europeias, após dois anos em que o índice Stoxx 600 não conseguiu atingir nem metade do desempenho do S&P 500.
A incerteza em redor da Europa prende-se em especial com o crescimento económico e a perceção (real ou exagerada) de uma certa ausência de dinamismo por parte das empresas europeias, que se diz estarem enredadas em demasiadas regulamentações, enquanto do outro lado do Atlântico, a desregulamentação e a eficiência são as palavras de ordem da administração Trump. A composição setorial da economia europeia tem muitas diferenças face à dos Estados Unidos, com um peso muito menor da tecnologia e a presença de muitos atores importantes nos setores dos bens de luxo, automóvel e saúde. Além disso, o desempenho deste ano nos dois primeiros setores deverá depender em grande medida de uma recuperação da atividade chinesa.
A situação chinesa continua a ser muito diferente da dos dois blocos ocidentais. Conforme referido com frequência neste boletim no ano passado, o abrandamento económico chinês é profundo e a transição para o novo ano (da Serpente!) não vai dar origem a nenhum milagre. No entanto, a chegada de Donald Trump e das suas potenciais tarifas sobre os produtos chineses nos Estados Unidos poderiam levar o governo a tomar medidas mais agressivas em matéria de recuperação económica ou, pelo menos, medidas mais bem orientadas, para aliviar o entorpecimento que o consumidor chinês sofre há vários anos. Se fosse esse o caso, poderíamos então assistir ao início de uma saída da crise, o que seria igualmente benéfico para muitos atores europeus, como se explicou anteriormente.
A nossa avaliação contínua da situação económica nos três grandes blocos – Estados Unidos, Europa e China – estará no centro do nosso processo de investimento este ano. No entanto, não esquecemos a geopolítica onde, uma vez mais, a chegada ao poder do novo presidente dos Estados Unidos constitui um fator de potenciais mudanças… positivas ou não. O fim da guerra na Ucrânia, tantas vezes anunciado por Donald Trump durante a sua campanha, poderá vir a baralhar as cartas no setor da energia. Paralelamente, a manutenção do cessar-fogo em Gaza e, claro, a atitude da China relativamente a Taiwan continuarão a ser potenciais vetores de volatilidade nos mercados este ano.
O desejo que temos de construir carteiras sólidas, capazes de resistir a grandes convulsões, não é novo e será mantido em 2025. «Mercados voláteis» não significam necessariamente um desempenho dececionante da bolsa, sendo que o nosso cenário central está longe de ser negativo, tal como não o foi em 2023 ou 2024. Por outro lado, é necessário ter mais em conta as elevadas valorizações nos Estados Unidos, a elevada concentração setorial na tecnologia e a mudança de administração norte-americana, com as especificidades que lhe estão associadas, designadamente, em matéria de comunicação.
A este respeito, vamos manter a grande diversificação da componente obrigacionista das nossas alocações, tanto em termos de segmentos de mercado como de duração. Paralelamente, a nossa exposição ao ouro vai manter-se inalterada, porque, provavelmente, o metal amarelo ainda não terminou a sua escalada e continua a ser uma proteção eficaz contra as preocupações dos investidores.
«Mercados voláteis» não significam necessariamente um desempenho dececionante da bolsa, sendo que o nosso cenário central está longe de ser negativo, tal como não o foi em 2023 nem em 2024
Relativamente às ações, mantemos a confiança na nossa exposição no final de 2024, que, como é óbvio, está fortemente concentrada nas ações dos EUA, embora não apenas nas tecnológicas. Paralelamente, mantemos as nossas apostas setoriais nos cuidados de saúde e bens de consumo básicos, assim como na energia em sentido lato (petróleo e gás, energias renováveis e serviços). Em termos de investimentos, a Europa e a Suíça mantêm-se igualmente diversificadas em todas as carteiras, quer através de ETF quer através de uma gestão ativa.
Por último, não podemos deixar de referir a componente alternativa das nossas alocações, que tiveram um excelente desempenho em todos os ambientes de mercado desde 2022. Deste modo, mantemos a nossa confiança nos gestores alternativos «long/short», tanto de obrigações como de ações, cujas virtudes de descorrelação vão constituir uma almofada de segurança muito apreciada em caso de reação exagerada dos investidores.
Em resposta às incertezas dos mercados financeiros e ao comportamento imprevisível do presidente dos EUA, vamos continuar a aplicar as receitas que tornaram as nossas alocações tão bem-sucedidas nos últimos dois anos, designadamente, a diversificação, a flexibilidade e o pragmatismo em termos de gestão.
O mês de janeiro já confirmou o que referimos neste mesmo boletim no fim de 2024, ou seja, que entraríamos em 2025 com menos certezas, designadamente, políticas e geopolíticas, e mais volatilidade bolsista.
É difícil imaginar que a economia americana venha a abrandar abruptamente nesta fase, tal como parece improvável que alguém como Donald Trump não faça tudo o que estiver ao seu alcance para galvanizar os seus eleitores, para quem o desempenho de Wall Street é muito importante. Apesar disso, a nossa experiência dos mercados sugere que devemos esperar o inesperado e que a vigilância não é um obstáculo ao otimismo e ao desempenho.